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A ENERGIA DA PAIXÃO PELO ESPORTE

Somos todos passíveis de paixões. São elas que nos dizem quem somos. A paixão da qual tratamos aqui significa um gostar muito de algo, pelo qual faríamos qualquer coisa. E o esporte, por mexer com o nosso corpo e cérebro, liberando e produzindo substâncias químicas, é uma das paixões mais comuns entre as pessoas. Não importa suas crenças e ideologias, quando se trata de futebol, corrida, futsal, basquete, ou qualquer outra modalidade esportiva, as diferenças ficam pra trás. Vide as Olimpíadas, onde povos do mundo inteiro, de diversas culturas e costumes, se encontram para competir e, também, para confraternizar.


E no alto da Serra Gaúcha encontramos exemplos de paixões pelo esporte: a paixão de uma cidade pelo futsal e de um jogador pelo seu time. A cidade de Carlos Barbosa, com uma população de 26 mil habitantes, é orgulhosamente o berço de um dos maiores clubes de futsal do mundo: a ACBF – Associação Carlos Barbosa de Futsal, e de uma das torcidas mais apaixonadas do país. E foi esse time que o goleiro Giancarlo Ramos Rodolpho, 35 anos, conhecido como Wolverine, escolheu para jogar. Sim, o jogador desde jovem, na cidade de Londrina, sonhou em fazer parte da ACBF, tamanha é sua paixão pela agremiação. “Um sonho que persegui em silêncio”, confessa.


O rapaz que descobriu o futsal aos nove anos de idade, aos 16 já jogava pelo Londrina, no Paraná, mas sempre de olho nos jogos do time da Serra. Quis o destino que Giancarlo enfrenta-se a ACBF, em Carlos Barbosa. “Voltei encantando. Fiquei maravilhado com a cidade e com o time que tinha sete jogadores da seleção. Disse para o meu pai que esse era o time que eu queria jogar’, conta entusiasmado. Em 2013, veio o convite para jogar pela equipe. A primeira passagem de Giancarlo pela ACBF foi marcada por títulos, entre eles, as conquistas do Estadual e da Liga Nacional de Futsal 2015 (LNF). Depois, o goleiro transferiu-se para a Intelli e também defendeu o Foz Cataratas, onde ajudou a levar os paranaenses para as semifinais da LNF. Wolverine, que começou sua carreira nas categorias de base do futsal de Londrina, já defendeu a Seleção Brasileira de Futsal na Copa do Mundo de Futsal de 2016.


Fotos: Débora Zandonai e Bruno de Oliveira Brito
Fotos: Débora Zandonai e Bruno de Oliveira Brito

Com o visual parecido com o do personagem de ficção, Wolverine é um ídolo amado na cidade que escolheu para representar no futsal. A torcida, em especial as crianças, tem um carinho especial por ele. E a paixão é recíproca. “Adoro estar com as crianças, sentir elas próximas dentro da quadra. Elas falam a verdade, se você jogou bem ou não”, ressalta. “E por fim, elas têm a fantasia que sou realmente o Wolverine e tenho garras e superpoderes. Levo bolada e não me machuco”, diz, com alegria. Giancarlo já se considera cidadão barbosense. É comum encontrar o goleiro passeando pelas ruas e conversando com as pessoas. Isso quando não está em treino, que acontecem todos os dias da semana. “Sou um cara que não me escondo na vitória e nem na derrota. Gosto de estar com as pessoas, amo esporte e quero que as pessoas estejam comigo, pois esporte é o todo”.


Uma história de paixão e conquistas


A história de paixão entre Carlos Barbosa e o esporte começou há muito tempo. No final dos anos 60, a população da cidade acompanhava várias equipes de futsal, que disputavam uma competição local. Em 1976, duas delas, o Real e o River, as mais famosas na época, decidiram que seria possível olhar mais alto. Então, precisamente no dia 1º de março, juntaram suas forças e formaram uma nova equipe. O nome desta nova agremiação foi dado pelo proprietário da Lancheria Original na época, senhor Aldo Pontin, que sugeriu batizá-la com o nome de Associação Carlos Barbosa de Futebol com o intuito de "promover mais uma vez, o bom nome da cidade". As cores do uniforme foram uma mescla entre o branco, do Real - time do fundador Clovis Tramontina, e o preto, do River - do fundador Sérgio Luiz Guerra, o Shéi. Para completar o tricolor, escolheram o laranja - o mesmo que a seleção holandesa usou na Copa da Alemanha de 1974, tornando-se mundialmente famosa como 'Laranja Mecânica'.


A recém formada equipe anunciou, então, um projeto que deixou os habitantes da cidade perplexos: ganhar o título estadual de futebol de salão. Nos 20 anos seguintes à sua fundação, a Associação Carlos Barbosa de Futsal (o nome foi trocado quando o esporte recebeu uma nova denominação) esteve sempre na primeira divisão do Campeonato Estadual. No ano de 1996, aquele sonho de meninos atletas se tornaria a realização de experientes dirigentes, quando, exatamente no dia 19 de outubro, desentalaram o grito de 'campeão', preso há tanto tempo. O tempo passou e os títulos aumentaram. Desde a conquista de seu primeiro Gauchão, a ACBF levantou 11 vezes a taça de melhor time do Estado. Além disso, o clube cruzou o Rio Mampituba, na divisa com Santa Catarina, para conquistar o Brasil. A ACBF já foi campeã da Liga Nacional de Futsal cinco vezes: 2001, 2004, 2006, 2009 e 2015, e também da Taça Brasil de Clubes, em 2001, 2009 e 2016. Fora do país, a Laranja Mecânica da Serra conquistou a América três vezes: 2002, 2003 e 2011, unificando os títulos de Campeã Sul-Americano e Campeã da América.


Além do continente, a ACBF conquistou o mundo. Em 2001, foi campeã do Torneio Intercontinental na Rússia, quando a competição ainda não tinha o aval da FIFA. Em 2004, foi a primeira equipe de futsal do planeta a ostentar o título de Campeã do Mundo, após o órgão máximo do esporte apadrinhar a disputa. E, em 2012, a consagração do bicampeonato jogando em casa, quando sediou a Copa Intercontinental pela primeira vez em Carlos Barbosa. Ao todo, a ACBF exibe em sua Galeria de Troféus cerca de 400 peças, que mostram o trabalho sério e vitorioso nestes quase quarenta anos de esporte.

Além de títulos, o clube trabalha com mais de 450 jovens e crianças em suas categorias de Base e Escolinhas de Futsal, que abrangem além de Carlos Barbosa, os municípios de Salvador do Sul e Garibaldi. Muito mais do que desenvolver a qualidade de vida através do futsal, esses meninos e meninas recebem uma educação complementar à escola, onde o esporte é um veículo para disseminar valores e formar bons cidadãos.


“Corro por paixão”


É comum vê-la correndo pelos parques de Caxias do Sul, em ritmo de treino. A jornalista Marisa Pereira, 52 anos, é protagonista de um esporte o qual nunca imaginou dedicar-se: a corrida. Sempre amou praticar atividades físicas e chegou a pensar, na época de vestibular, em cursar Educação Física. Por ironia do destino, havia uma prova que implicava correr, e por não sentir-se apta optou pela outra paixão, o jornalismo. Hoje, Marisa, que durante muito tempo atuou no jornalismo esportivo, é apaixonada pela corrida, esporte que lhe trouxe muitas alegrias e a auxiliou na superação de momentos difíceis.


Fotos: Débora Zandonai e Bruno de Oliveira Brito
Fotos: Débora Zandonai e Bruno de Oliveira Brito

“É uma paixão meio doentia”, revela a jornalista. Durante a corrida, o atleta se expõe à dor, ao clima, ao seu próprio limite, mas até mesmo por essas dificuldades sente-se realizada ao concluir uma prova. “Quando você corre, sente dores, acha que não vai terminar, mas tem a sensação final que compensa tudo”, conta. Segundo Marisa, não há como ignorar que o esporte traz vários benefícios para o corpo, como mais resistência e saúde, o que também estimula a sua prática. “Ajuda no físico, na mente, e você ainda conhece um monte de gente bacana”. Entre essas pessoas que Marisa conheceu está seu treinador Alexandre Miotto. O incentivo dado por ele tem sido fundamental no desempenho da atleta. “A paixão dele pelo esporte nos contagia. Tem sempre uma palavra, uma mensagem motivadora”, diz.


Miotto, aos 38 anos, com 10 anos de experiência em preparar atletas, é também apaixonado pelo esporte, o que é possível identificar já na sua fala entusiasmada, além das inúmeras medalhas que exibe em seu estúdio. Ele explica que a paixão resulta da sensação de bem-estar causada pela produção de endorfina no cérebro, que regula a emoção e a percepção da dor, ajudando a relaxar e gerando prazer. Envolvido por esse sentimento, Miotto se dedica a uma vida regrada para obter melhores resultados. “O atleta amador não ganha nada, o que o estimula é a vontade, a paixão e os benefícios ao seu corpo. Depois que ele completa uma corrida ou conquista o primeiro pódio, não para mais”, constata.


Como veterana nas corridas Marisa diz que o envolvimento com esse esporte segue os estágios de uma paixão. “Tem o começo, o apaixonar-se, que é quando a gente descobre que consegue e quer sempre correr. Você faz todas as provas que aparecem. Mas, com o passar do tempo, você amadurece e identifica aquelas que realmente são significativas”, afirma. Portanto, atualmente, ao contrário de quando começou há oito anos, Marisa escolhe as provas mais interessantes para ela, como a Ultra Travessia Torres-Tramandaí, chamada TTT. São 81,34 Km de corrida na areia, o que equivale a quase duas maratonas na beira da praia. Já é o quinto ano que faz o percurso. O difícil, segundo a atleta, não é cumprir o trajeto, mas sim os treinos. “Tem que fazer uma maratona por final de semana, para ter fôlego e resistência para a prova de longa distância”, explica. No entanto, mesmo com toda paixão, há dias que bate aquela preguiça, porém “sofre se não faz o treinamento direito”.


A determinação da atleta é tão grande que durante uma prova chegou a superar uma crise de pânico. “A minha mente pensava em parar, pois eu não conseguia respirar, mas logo me concentrei e busquei o controle. “Foi uma vitória para mim.” E por meio do esporte, a jornalista também enfrentou a doença da mãe, uma separação e um processo de depressão. Para Marisa, correr é uma forma de extrair o seu melhor “é buscar o que tem de bom dentro de si”.

Fotos: Débora Zandonai e Bruno de Oliveira Brito


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