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O AMOR QUE VEM DOS CÃES

Desde a infância, a paixão pelos animais, em especial os cães, move a vida da empresária caxiense Patrícia de Souza, 49 anos. Ela não mede sacrifícios ou palavras na hora de protegê-los. Atualmente, sua parceira é a cadela Bella, mas até um ano atrás também faziam parte da família a Lilica, que partiu aos 15 anos, e a Dori, falecida aos 14. Todas cruzaram o caminho de Patrícia para serem salvas, pois tinham histórias tristes de abandono e maus tratos que, graças ao seu imenso respeito e zelo pelos bichos, tiveram finais felizes.


A empresária conta que não hesitou ao escolher Lilica, a mais frágil de uma ninhada, com problemas de saúde (teve cinomose) e fobias. Bem cuidada, a cachorra se tornou elegante, apesar de carregar muitos traumas. Mesmo com seu porte grande, o colo de mãe representava aconchego. Na vida adulta, Patrícia recorda que Lilica aprendeu a gostar de praia e, meses antes de sua partida, já com dificuldades para caminhar, ela fez questão de levá-la para ver o mar. “Ela parecia uma criança, encantada com a água, a areia e até correu”. Já a pequena Dori também teve os melhores cuidados possíveis até o último dia de sua vida. Patrícia estava no Rio de Janeiro quando foi avisada de que a pequena passava mal e, na hora, antecipou sua volta para ficar ao seu lado. Dori tinha problemas neurológicos devido à perda das duas orelhas ainda quando era filhotinha, causada por atos desumanos. “Quando a encontrei numa clínica veterinária não pensei duas vezes em ficar com ela. A Dori me ensinou a amar. Foi o amor mais puro e sincero que conheci. Tirar ela de mim era como tirar um pedaço de mim”, revela, emocionada.


Fotos: Maiki Castilhos
Fotos: Maiki Castilhos

Com a Bella a história não foi diferente. Conforme Patrícia, mais uma vez, lá estava ela em uma veterinária quando chegaram com a cachorrinha em uma caixa de papelão. A filhote havia sido atropelada e abandonada no mato. “Eu olhei para dentro da caixa e, na hora, sei que ela me escolheu para ser sua dona”, diz. Bella perdeu a pata dianteira direita e teve várias fraturas na esquerda, o que a deixou com dificuldades para andar e com muitas dores. Quando Lilica e Dori estavam vivas, a rotina da casa era voltada para as três. Remédios, rações especiais, passeios e, claro, muito amor faziam parte da rotina da empresária. Em meio a essa agitação, Patrícia precisava trabalhar e cuidar da vida pessoal, porém, nunca deixar de ajudar nenhum animal que aparecesse no seu caminho. Tanto é assim que, certa vez, um filhote de passarinho caiu do ninho no quintal de sua casa e, por semanas, ganhou sua atenção. A empresária buscou informações e colocou em prática a melhor forma de aquecê-lo, montando um ninho artificial para alimentá-lo e ficando horas observando cada movimento do pássaro para agir caso fosse necessário.

Qualquer situação de abandono sofrido pelos animais toca profundamente o coração e a alma de Patrícia, sentimento que a acompanha desde criança. Não foram poucas as aventuras em busca de melhorar a condição dos bichos. Além dos cães e passarinhos, cavalos, búfalos, gambás, lagartos e, até mesmo, ratinhos são alvos de seu olhar amoroso e sua incansável dedicação. “Trocava relógio por cães, trazia animais para casa mesmo sem permissão e cheguei ao ponto de não deixar domar uma égua xucra da fazendo do meu pai, o que lhe ocasionou um pé quebrado. Não gostei do jeito que iam domar e então não deixei, queria ela livre”, afirma. O que leva esta empresária a amar e dedicar-se com tanta paixão aos animais é o fato de entendê-los e senti-los como seres vivos, que possuem sentimentos. Além disso, para a empresária, os bichos têm a capacidade de fazer com que as pessoas demonstrem amor. “O amor deles é sincero. Eles não são como os seres humanos, cheios de interesses, querendo tirar vantagem de tudo. Por isso, nos sentimentos à vontade para amá-los porque a troca é do mais puro afeto. É uma paixão que não se mede”, acrescenta.


A paixão nas roupas personalizadas


Toda essa paixão de Patrícia pelos animais também é latente em três irmãs entrevistadas pela MChic. A preocupação com o bem-estar dos cachorros fez com que elas investissem em um nicho de mercado pouco explorado no Brasil e no mundo. Tudo começou em 2013, quando um buldogue inglês da família - que administra uma confecção de fantasias para dança e teatro em Caxias do Sul - teve pneumonia. “A veterinária disse que o King precisava proteger o peito, só que nem em São Paulo, onde moro, encontrei uma roupa que coubesse nele. No mundo é difícil porque é uma raça que tem um corpo gordinho, robusto, pescoço curto e grosso, ombros musculosos”, afirma a artista plástica Eliana Carla Bordin.



Por ter costurado durante mais de 60 anos, não foi difícil para a mãe de Eliana recortar os primeiros moldes de roupinhas sob medida para cães, em especial das raças buldogue (inglês e francês) e pug. Assim que o agasalho do King ficou pronto, a artista plástica teve a inusitada ideia de pedir à dona Ignês (in memoriam) duas fantasias: Branca de Neve (para a sua “menina” Diana, outra buldogue) e Super-Homem (para o “menino” King). As fotos deles com os figurinos foram para as redes sociais e, claro, chamaram a atenção de outros donos de buldogues. Atraídos pela graça das peças personalizadas, eles passaram a encomendá-las para seus fiéis companheiros.


Assim nascia a UAUH Dogs, com todo respeito e adoração pelos bichos. À medida que o tempo foi passando, a marca expandiu o leque de opções de roupinhas, provocando muito engajamento nas postagens de vídeos e fotografias na página no Facebook (hoje com 6,5 mil curtidas) e no Instagram (37,5 mil seguidores). A primeira grande venda foi de camisetas da Seleção Brasileira, em 2014, ano de Copa do Mundo. Além das camisetas de times de futebol, os blusões de malha, coletes acolchoados e, acredite você, terninhos (!!!) lideram a preferência das pessoas para vestir seus cães. Na cor preta e com direito a gravatinha, o terno tem um bolsinho para que os filhos de quatro patas possam levar as alianças até os noivos. “Os casais escolhem eles como pajens, o que é uma atração à parte nos casamentos. É super divertido”, diz Mirvana Ignês Bordin, criadora dos modelos. Ao lado da outra irmã, Tatiana Raquel Bordin, ela acompanha os pedidos que chegam dos mais diversos lugares que você possa imaginar.

Os tecidos utilizados na confecção das roupinhas e fantasias são antialérgicos, flexíveis, macios e confortáveis. Os tamanhos são adequados ao corpo de cada cão, podendo variar do baby ao XXZ. Quanto aos trajes em si, não há limites. Chapeuzinho Vermelho, Coruja, Rei Leão, Tubarão, Abelha, Girassol são apenas seis exemplos de todas as invenções de Mirvana nos últimos sete anos. Segundo ela, normalmente as pessoas querem algo específico. “Faço mágicas de vez em quando. Além de personagens de filmes e desenhos, pensamos nos temas que estão em alta, como a roupinha de Coala que fizemos por causa dos incêndios na Austrália para lembrar desses amados bichos que perderam a vida de um jeito tão triste”.


Todos os meses são confeccionadas, aproximadamente, 100 peças. Tatiana calcula que do total da produção, cerca de 30% é vendida para estrangeiros. Os modelos costurados por aqui vestem cachorros que moram nos Estados Unidos, no Canadá, na China, Austrália, França, Bélgica, Espanha, Alemanha, Itália, dentre outros países. No Brasil, a maior parte da demanda vem da capital paulista, mas as roupinhas também chegam aos pontos mais longínquos da confecção caxiense, como o estado do Amapá.


Fotos: Maiki Castilhos
Fotos: Maiki Castilhos

A educação pela recompensa


Cães se apaixonam pela gente como a gente se apaixona por eles. Eles são temperamentais, inteligentes, leais. Aos 58 anos, Mirvana sempre teve cachorros. A atual é a vira-lata Nala, resgatada da rua. “O amor que sentimos por esses animais nos motiva a criar e costurar para eles, que são anjos, superiores a muito ser humano. Não guardam rancor, nos agradecem, nunca esquecem da gente e sempre irão nos amar”, afirma, emocionada. Não é exagero dizer que eles são como filhos, membros das famílias e melhores companhias das pessoas em vários momentos da vida. Já a irmã Tatiana tem o buldogue francês Bruce. “É uma paixão, uma raça com um caráter especial. Com aquela cara de brabo, um corpo forte, eles parecem crianças, são brincalhões, dóceis, simpáticos, afetuosos”, acrescenta.


Para o adestrador Júnior Maciel, esse afeto passa por uma conexão de respeito, confiança e educação que o cão deve aprender a ter para com o seu dono. Ele tem oito cachorros, sendo três da raça rottweiler, sua preferida. “Sempre tive apego pelos cães e, desde criança, muito contato com essa raça porque meu falecido dindo criava rottweilers. Eles são magníficos, morrem por você se necessário. Se você constrói um elo de confiança com o seu cão, ele vai dar a vida por você, vai te defender”, atesta. A curiosidade de Júnior em saber como é a relação do animal com o tutor fez com ele fizesse cursos de treinamento. Com sete anos de profissão, ele revela que a parte principal de seu trabalho é ensinar o dono a se comunicar de forma correta com o animal. “Quando comecei a perceber que o cão precisa se sentir seguro com a pessoa, descobri que é assim que ele vai ser um verdadeiro amigo. É fundamental saber conduzi-lo, mostrar o que você quer sem tentar enganá-lo”. Ou seja, jamais subestime a perspicácia de um cachorro, pois ele sente quando o tutor está inseguro.


Fotos: Maiki Castilhos
Fotos: Maiki Castilhos

Conforme Júnior, a maioria dos donos procura sua escola porque quer um cão obediente para andar na rua com tranquilidade, sem puxar nem avançar nas pessoas ou em outros animais. “Parou pra conversar com um amigo? O cão deve sentar, ficar quieto, esperar o momento que o tutor fala: junto, vamos passear de novo? É como um filho. Ele precisa de educação e gosta disso porque é uma espécie de jogo, que vai recompensá-lo pelo bom comportamento”, diz. A recompensa, que vem com comida e brincadeiras, é uma necessidade do cachorro. Com um petisco, ele fica mais calmo. Com uma bolinha, é pura explosão de alegria. Levá-lo a fazer o que ele gosta também é importante. Gestos simples como dar carinho (básico!) e passear fazem com que o animal se conecte à pessoa. Por outro lado, segundo o adestrador, agir de forma agressiva, gritar com o cão e xingá-lo quando ele apronta alguma coisa são atitudes equivocadas que só vão gerar medo no animal de estimação. Júnior complementa que podemos dar todo o amor do mundo ao cão (e devemos, claro!), mas ele tem que saber que existem regras dentro de casa, precisa aprender a valorizar o alimento que ganha e não receber tudo de mão beijada (a compensação). Dormir o dia inteiro, sem fazer nada? Não é aconselhável. É muito mais saudável que o cachorro se exercite, circule pela rua, conheça um ambiente novo, sinta um cheiro diferente.



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